Relatório Revela Transformação Sem Precedentes do Sistema de Imigração

Um novo relatório divulgado em 23 de julho pelo American Immigration Council alerta que o retorno da administração Trump ao poder desencadeou uma reformulação radical do sistema de imigração dos Estados Unidos, enfraquecendo proteções legais de longa data e remodelando o equilíbrio da democracia no país.

O relatório de 65 páginas, Mass Deportation: Analyzing the Trump Administration’s Attacks on Immigrants, Democracy, and America (Deportação em Massa: Analisando os Ataques da Administração Trump contra os Imigrantes, a Democracia, e a América), descreve que a administração está agindo rápida e agressivamente para limitar a imigração, eliminar proteções de pessoas já presentes no país, e expandir o controle a níveis jamais vistos na história moderna.

“Isso não é apenas uma agenda rígida de imigração,” diz Nayna Gupta, diretora de políticas do Conselho e coautora do relatório. “Se trata de um esforço generalizado para usar os imigrantes e o sistema de imigração como instrumento para atacar princípios fundamentais da nossa democracia e exercer um poder executivo sem limites, a fim de reorganizar o governo americano com base na exclusão e no medo.”

Programas de Asilo e Refúgio Desmantelados
Na fronteira sul, as proteções ao asilo que existiram por décadas estão “praticamente extintas”, segundo o relatório. A administração encerrou o CBP One, o aplicativo que permitia aos migrantes agendar entrevistas nos portos de entrada, e não apresentou nenhuma alternativa.

Solicitantes de asilo que se apresentam às autoridades frequentemente são recusados ou detidos por tempo indeterminado, mesmo após decisões judiciais favoráveis. Em um dos casos destacados pelo relatório, Ilia, uma dissidente não binária da Rússia, teve o asilo concedido, mas permaneceu presa por mais de um ano sem previsão de libertação.

O programa de refugiados dos Estados Unidos também foi interrompido. Dezenas de milhares de refugiados aprovados permanecem retidos no exterior, enquanto uma ordem executiva acelera a entrada de sul-africanos brancos com base em alegações contestadas de perseguição.

Status Legal Revogado para Milhões

O relatório detalha como a administração revogou o Status de Proteção Temporária (TPS) e o salvo-conduto humanitário (humanitarian parole) para mais de um milhão de pessoas, forçando muitas a caírem em situação migratória irregular e retirando seus direitos de trabalho.

“Essas são pessoas que construíram vidas e famílias aqui,” disse Dara Lind, pesquisadora sênior do Council e coautora do relatório. “Revogar esse status da noite para o dia, sem participação legislativa, não é apenas disruptivo — é ilegal.”

Burocracia como Arma
Mesmo imigrantes que seguem o processo legal estão enfrentando novos obstáculos. Aumento massivo nas taxas desacelerou os trâmites, e regras obscuras tornaram quase impossível para os solicitantes obter ou manter um status legal.

Um beneficiário do DACA, Axel, disse ao Council que está deixando o emprego e voltando a estudar por causa da incerteza em torno de sua proteção contra a deportação. “Não sei se poderei trabalhar legalmente daqui a seis meses,” afirmou. “Preciso pensar em sobreviver.”

Medo e Repressão Sem Precedentes
A abordagem da administração gerou um clima generalizado de medo, com agentes federais realizando prisões em igrejas, escolas e tribunais.

Defensores da comunidade descrevem um cenário em que “qualquer pessoa pode ser alvo, em qualquer lugar.” Beatriz, uma advogada de imigração que trabalha com crianças não cidadãs, relatou ter visto uma criança de 6 anos comparecer sozinha diante de um juiz. “Isso me lembrou da minha própria jornada para os EUA,” disse ela. “Mas nunca imaginei que veríamos tantas crianças sem advogados.”

O “Big Beautiful Bill Act” de Trump, aprovado em julho, aumenta o orçamento da Imigração e Alfândega (ICE) para detenções em mais de 300%. Segundo o relatório, isso abre caminho para uma expansão significativa das instalações de detenção — já criticadas pelas condições precárias.

Quem Estamos Forçando a Deixar o País — e Como?
O relatório revela uma realidade alarmante: qualquer pessoa — independentemente do status migratório, histórico de contribuições à sociedade ou ausência de antecedentes criminais — pode agora ser alvo de prisão e deportação.

Agentes federais de imigração receberam ampla discricionariedade para abordar pessoas com base em sua aparência, idioma ou nacionalidade presumida. Indivíduos que viveram legalmente nos Estados Unidos por décadas estão tendo seu status revogado e enfrentando processos de deportação repentina. Famílias estão sendo separadas, com pais detidos enquanto seus filhos nascidos nos EUA são deixados para trás.

Repressão em Qualquer Lugar, a Qualquer Momento
O American Immigration Council destaca a amplitude das operações de fiscalização. Agentes realizaram prisões em frente a escolas, igrejas e tribunais, quebrando protocolos antigos criados para proteger locais sensíveis. Hospitais e abrigos relataram a presença de agentes federais interrogando pacientes e visitantes sobre seu status migratório.

Em um incidente citado no relatório, um homem foi detido ao sair de um concerto escolar de seu filho, depois que agentes do ICE fizeram uma emboscada no estacionamento. Táticas semelhantes foram relatadas nas proximidades de centros comunitários e abrigos para vítimas de violência doméstica.

“Isso não é uma repressão direcionada a ameaças reais,” disse Lind. “É um sistema indiscriminado, no qual pessoas comuns, em meio à sua rotina, podem ser apreendidas a qualquer momento.”

Recursos Massivos Direcionados para Repressão Migratória
O relatório descreve uma reorganização sem precedentes das prioridades das forças de segurança. Agências federais e estaduais inteiras, assim como as Forças Armadas dos EUA, estão agora envolvidas em operações de imigração.

  • Tropeiros estaduais estão sendo realocados para forças-tarefa federais de deportação.
    • Delegados federais (marshals) estão realizando batidas conjuntas com o ICE e a Patrulha de Fronteira, longe das regiões fronteiriças.
    • O Departamento de Defesa destinou recursos, incluindo drones de vigilância e apoio logístico, à fiscalização migratória.

Essa mudança na alocação de recursos tem impactado negativamente outras missões de segurança pública, como o combate ao tráfico de drogas, investigações de tráfico humano e ações contra o crime organizado.

Deportações para Destinos Perigosos
A velocidade e a escala das deportações têm resultado no envio de imigrantes para alguns dos países mais perigosos do mundo, sem uma análise criteriosa das circunstâncias individuais.

Kaelyn, residente nos EUA, contou que está se endividando para tentar impedir a deportação de seu parceiro para El Salvador, onde ele provavelmente será preso em uma megaprisão conhecida por violações de direitos humanos. “Não consigo dormir à noite sabendo o que pode acontecer com ele se o deportarem,” disse ela.

Defensores têm documentado casos de deportados assassinados poucas semanas após retornarem a seus países de origem. Outros foram presos sem julgamento ou sofreram perseguição política.

“Os Estados Unidos prometeram por muito tempo que não devolveriam pessoas a lugares onde enfrentam perseguição,” disse Gupta. “Essa promessa está sendo quebrada diariamente.”

Ameaças às Instituições Democráticas

Além da política de imigração, o relatório alerta sobre danos às instituições democráticas. A administração desafiou abertamente a supervisão do congresso e ignorou mandados judiciais limitando as prisões.

“Isso é mais do que o controle das fronteiras,” Gupta disse. “Se trata de um órgão executivo determinado a burlar a checagem e o equilíbrio para redefinir permanentemente quem pertence à América.”

Especialistas jurídicos dizem que, mesmo que os tribunais impeçam medidas individuais, os planos maiores podem ter consequências duradouras. “Testemunhamos uma reimaginação do poder federal,” Lind disse. “Reverter essas mudanças poderia levar anos, até mesmo sob uma administração futura com prioridades diferentes.”

O relatório conclui que as ações da administração equivalem a uma campanha deliberada e multifacetada para “reorganizar o governo americano com base na exclusão e no medo.” Embora algumas políticas possam enfrentar reveses legais, defensores temem que os danos às comunidades imigrantes e às normas democráticas já sejam profundos.

Enquanto as disputas políticas se desenrolam nos tribunais e no Congresso, milhões de imigrantes vivem na incerteza, sem saber se poderão permanecer com suas famílias, manter seus empregos ou buscar proteção contra a perseguição.

“Isso não se trata apenas de política de imigração,” disse Gupta. “É sobre o tipo de democracia que queremos ser.”

Para ler o relatório completo, visite: www.americanimmigrationcouncil.org/report/mass-deportation-trump-democracy/

 

Conselho para os Imigrantes

Devido às mudanças recentes que têm gerado confusão e medo, especialistas recomendam fortemente que imigrantes busquem ajuda junto a profissionais jurídicos confiáveis. É fundamental evitar “notários” ou representantes não licenciados que ofereçam serviços de imigração sem a devida formação ou certificação.

Residentes de Connecticut podem verificar se um advogado está em situação regular acessando a página oficial de consulta do Poder Judiciário de Connecticut: www.jud.ct.gov/attorneyfirminquiry/.

Imigrantes também podem procurar apoio em organizações sem fins lucrativos credenciadas e reconhecidas pelo Escritório de Programas de Acesso Legal do Departamento de Justiça dos EUA. Essas organizações oferecem serviços jurídicos de imigração gratuitos ou a preços acessíveis, seguindo padrões profissionais rigorosos.

Além disso, pessoas que vivem na região de Greater Danbury podem contatar o Centro de Recursos Comunitários da New American Dream Foundation para agendar uma consulta individual e obter encaminhamentos para advogados de confiança e organizações jurídicas sem fins lucrativos credenciadas. Para agendar uma visita, acesse: www.thenewamericandreamfoundation.org/center.

Fonte: American Immigration Council, Mass Deportation: Analyzing the Trump Administration’s Attacks on Immigrants, Democracy, and America, 23 de julho de 2025.